quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Três Pedaços Infinitos Não Necessariamente em Ordem

Subiram as escadas do metrô. Subiram juntos e pausadamente, cansados, as escadas do metrô. Subiram apaixonadamente, juntos para sempre as escadas do metrô. Mãos dadas.

A avenida Paulista, à hora do último metrô da noite já estava meio deserta, fria. Ele queria olhar as horas no celular, mas o havia desligado para fugir do controle materno, e ela idem. Foram andando até o vão do Masp. Lá olharam pro céu muito pouco estrelado e se abraçaram.

Infinito.

*

O sinal do intervalo tocou, e saíram de suas respectivas salas, pares de olhos se procurando. Química orgânica, seus empregos, os pais, o trânsito pra voltar pra casa, a menstruação atrasada um mês e meio, o vestibular, intervalo.

Foram juntos pruma área cheia de árvores, longe dos olhares instituídos. Ele acendeu um cigarro, e ela se sentou junto à parede e ficou falando.

Ele deu um trago, e começou com aquilo – dava uma passada larga, depois tentava medir uma passada de metade do tamanho da primeira, depois metade dessa, e assim por diante, até que seus pés já não conseguiam acompanhar sua brincadeira, que pela tradição ia de encontro ao sem-fim.Tudo terminava num ridículo símile de balé.

O cigarro pendia de sua mão, e ele escutava com seu ouvido quotidiano o que ela tinha a dizer com sua boca quotidiana.

*

Ela saiu do banheiro. Disse que não era nada, e felizes se beijaram. Felizes foram pra cama dizendo euteamos entre suspiros e gemidos. Morreram juntos, em uníssono. Morreram até o sol nascer de novo. Fizeram tudo de novo.

3 comentários:

Anderson Lucarezi disse...

cacete, isso me surpreendeu.
tá, de fato, bonito, ti.

um beijo,

Luca.

Hudson Túlio disse...

Prosa ácida, bela, tímida...Que esconde nas entrelinhas um lirismo calado, tímido.

Gostei muito.


Abraço!!!!

thiago disse...

Nada melhor que os dramas quotidianos, cara.
E, aliás, com certeza. I'm Fucking With You!