quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

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Quando eu tinha treze ou quatorze anos, trabalhava em casa uma moça que tinha uma filha linda. A menina aparecia lá em casa às vezes. Ficava tímida, como é de se esperar, mas eu puxava conversa com ela.

Não me entendam errado, eu era um perfeito pequeno burguês - só que achava ela linda, e por ela sentia tesão pueril. No meu íntimo achava ela muito diferente de mim, talvez até inferior, acho justo acreditar.

A vi poucas vezes, na verdade, e nem sei por que resolvi escrever isso. Lembrei dela hoje, sei lá por que.

O fim da história é que minha família se desfez da empregada e da filha, porque fomos morar em outra cidade.

*

Como será o amor entre pessoas de classes sociais radicalmente distantes? Deve ser complicado. Aquela baboseira romântica de plebeu e princesa se casando certamente não deve ser a regra.

Classes sociais separam as pessoas pra muito além da coisa geográfica de bairros ricos e pobres. Classes diferentes significam referências diferentes, quotidiano diferente, vida diferente, muita coisa diferente.

Esse tipo de barreira pode ser cruzado?

Acho que não se deve dizer impossível.

*

Ela estava fazendo um trabalho sobre platonismo, numa tarde, lá na minha casa. Me perguntou, tímida:

-Você sabe o que é amor platônico?

Eu disse, com desinteresse calculado, e do alto da minha montanha de arrogância adolescente:

-É um amor que não pode ser concretizado, que fica só na imaginação das pessoas.

Na época, eu achei que ela não tinha entendido nada do que eu tinha dito.


Hoje eu me lembrei do jeito como ela me olhou e tive certeza de que ela havia me entendido mais do que perfeitamente.





4 comentários:

Tefo disse...

foda

thiago disse...

o final é lindo, cara

Laion Castro disse...

primeira vez que visito aqui, gostei bastante!
este tema já me ocupou algumas vezes o pensamento, achei o máximo ler isto aqui.
...e belo desfecho!

Lia Lupilo disse...

já me passou pela cabeça um romance com alguém de uma classe social bem diferente, mas geralmente não é no cotidiano, é em uma situação inusitada, como pessoas perdidas em uma ilha.
ou alguém de outro país, como um indiano.
não tme como comparar as classes sociais, já que não tem uma comparação muito boa... mas tenho quase certeza que não ía ser um camponês provinciano ,-]
é impossível não procurar coisas suas em outrem...
no caso do home na ilha,
bom,
teríamos a merda do acidente em comum.