quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Frente a frente –

Extendem os braços, rápidos

(angústia mortal) – AGORA! AGORA!

Se aproximam, os peitos se tocam aveludados, os braços se entrelaçam rijos nas costas deles

Ele baixa um dos braços à altura da cintura dela, o outro se enrosca no pescoço

Ela faz o mesmo

Eles se apertam

Se apertam

E - -

Se apertam

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Três Pedaços Infinitos Não Necessariamente em Ordem

Subiram as escadas do metrô. Subiram juntos e pausadamente, cansados, as escadas do metrô. Subiram apaixonadamente, juntos para sempre as escadas do metrô. Mãos dadas.

A avenida Paulista, à hora do último metrô da noite já estava meio deserta, fria. Ele queria olhar as horas no celular, mas o havia desligado para fugir do controle materno, e ela idem. Foram andando até o vão do Masp. Lá olharam pro céu muito pouco estrelado e se abraçaram.

Infinito.

*

O sinal do intervalo tocou, e saíram de suas respectivas salas, pares de olhos se procurando. Química orgânica, seus empregos, os pais, o trânsito pra voltar pra casa, a menstruação atrasada um mês e meio, o vestibular, intervalo.

Foram juntos pruma área cheia de árvores, longe dos olhares instituídos. Ele acendeu um cigarro, e ela se sentou junto à parede e ficou falando.

Ele deu um trago, e começou com aquilo – dava uma passada larga, depois tentava medir uma passada de metade do tamanho da primeira, depois metade dessa, e assim por diante, até que seus pés já não conseguiam acompanhar sua brincadeira, que pela tradição ia de encontro ao sem-fim.Tudo terminava num ridículo símile de balé.

O cigarro pendia de sua mão, e ele escutava com seu ouvido quotidiano o que ela tinha a dizer com sua boca quotidiana.

*

Ela saiu do banheiro. Disse que não era nada, e felizes se beijaram. Felizes foram pra cama dizendo euteamos entre suspiros e gemidos. Morreram juntos, em uníssono. Morreram até o sol nascer de novo. Fizeram tudo de novo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

...

Quando eu tinha treze ou quatorze anos, trabalhava em casa uma moça que tinha uma filha linda. A menina aparecia lá em casa às vezes. Ficava tímida, como é de se esperar, mas eu puxava conversa com ela.

Não me entendam errado, eu era um perfeito pequeno burguês - só que achava ela linda, e por ela sentia tesão pueril. No meu íntimo achava ela muito diferente de mim, talvez até inferior, acho justo acreditar.

A vi poucas vezes, na verdade, e nem sei por que resolvi escrever isso. Lembrei dela hoje, sei lá por que.

O fim da história é que minha família se desfez da empregada e da filha, porque fomos morar em outra cidade.

*

Como será o amor entre pessoas de classes sociais radicalmente distantes? Deve ser complicado. Aquela baboseira romântica de plebeu e princesa se casando certamente não deve ser a regra.

Classes sociais separam as pessoas pra muito além da coisa geográfica de bairros ricos e pobres. Classes diferentes significam referências diferentes, quotidiano diferente, vida diferente, muita coisa diferente.

Esse tipo de barreira pode ser cruzado?

Acho que não se deve dizer impossível.

*

Ela estava fazendo um trabalho sobre platonismo, numa tarde, lá na minha casa. Me perguntou, tímida:

-Você sabe o que é amor platônico?

Eu disse, com desinteresse calculado, e do alto da minha montanha de arrogância adolescente:

-É um amor que não pode ser concretizado, que fica só na imaginação das pessoas.

Na época, eu achei que ela não tinha entendido nada do que eu tinha dito.


Hoje eu me lembrei do jeito como ela me olhou e tive certeza de que ela havia me entendido mais do que perfeitamente.





terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Um Musical Não Funciona Assim

Um homem anda por uma rua meio chuvosa. Nas calçadas, pessoas muito bem vestidas andam rápido, alegres. A cidade é Nova Iorque.

O homem entra num restaurante. Deixa o sobretudo e o chapéu na entrada, e dá uma sorrida e uma gorjeta pro maître. Há cumplicidade amigável entre os dois.

Segue para sua mesa, olha pra mulher sentada. Toma seu lugar a frente dela, e diz “desculpe pelo atraso”.

Ela não liga. Eles conversam um pouco. Uma música bem baixinha começa a tocar. Primeiro uns violinos, piano, flautas. Bem baixinho.

De repente, sem aviso, ele pega uma colher e canta, com todo seu fôlego:

“COLHEEEEEEEEEEEEER”.

...

Musicais não fazem nenhum sentido quando só em forma de texto.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Meu encontro com Espumante

-Foi um sonho estranho.

-Todo sonho é.

-É. Se importa se te contar?

-Hm, não, vá em frente.

-Certo.

Eu ouvia uma voz. Estava bem escuro e eu ouvia uma voz. Não me lembro de nada tátil. Era só “escuro e voz”. Não bem uma voz, mas um...sei lá o que era. Enfim, uma hora me encontrei com meu interlocutor. Entrevi sua forma física. Parecia um homem ou mulher, o que não faz nenhum sentido.

–Por que não?

Eu perguntei “Quem é você”, e a voz respondeu: “espumante”. É por isso que é estranho.

-Espumante?

É, espumante. Eu também não entendi nada. “Espumante?”, perguntei. “Sim, sou Espumante”, disse ele/ela. “Você já notou que nunca usou a palavra Espumante num texto?”.

Eu fiquei aturdido. Mesmo no sonho. De algum modo me faltava aquela nudez lógica, comum ao sonhar. Uma vez eu estive vestido de galinha, viajando num daqueles ônibus escolares amarelos. E não achava estranho.

-Mas nesse achou.

É, achei muito estranho. “O que é você?”. “Espumante”. “Você é uma palavra?”. “Algo assim”.

Tudo o que eu falava, falava ALTO. E bem articulado. Espumante parecia não falar a mesma língua que eu. “Vá embora logo, Abismo e Marola estão vindo para o chá".

-(risadas)

-É, essa é a parte engraçada.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

is it?

Is ignorance a bliss?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

parênteses

Me pergunto como espero me tornar um escritor se a única coisa que sái dos meus dedos são wisecracks de origem duvidosa e trivialidades mais secas do que uma piscina de silica gel.

saicneciter

As vezes eu, sem querer, escrevo parecido com o Bukowski.
E quase sempre o texto fica do meu gosto. O problema é que, relendo, eu percebo minha a imitação.

E qualé o mérito disso? Não quero ser o Bukowski.

Não quero "foder enquanto ouço Mahler, que por sinal é a única coisa que presta musicalmente nessa merda de mundo, aliás já mencionei que o mundo é uma merda?" (e etecétera)

...

A uns dois anos atrás, eu tava numa trip (gasp)

...

então, como dizia, uma trip Bukowski e Apanhador no Campo de Centeio e essas coisas. Acho que hoje em dia nem tanto mais. Os livros do Bukowski não me atraem mais tanto (o que talvez signifique que eu devia ir comprar uns novos e parar de reler os antigos).

Acho que minha trip (cúdepalavrahippieporémnecessáriaasvezes) agora é meio, hm, sei lá qualé minha trip.

Incrível como escrever as vezes nos traz a grandes conclusões né?













(nota mental: escutar Mahler enquanto fodo não deve ser má idéia)